História >> O Dia da Consciência Negra
Viva Zumbi dos Palmares!
Um negro, um líder...
Zumbi, o grande guerreiro negro nasceu livre, na Serra da Barriga (Capitania de Pernambuco), em Alagoas, onde atualmente está a União dos Palmares. Porém, foi capturado antes mesmo de completar 10 anos de idade e entregue a um missionário português. Na ocasião, passou a ser conhecido como "Francisco" (seu nome de batismo), recebeu os sacramentos e participou ativamente na celebração das missas diárias. Aprendeu álgebra, latim, língua portuguesa e a religião católica. Aos 15, fugiu do Porto Calvo para se abrigar em Palmares.
Já aos 25 anos, tornou-se um líder reconhecido no quilombo. Durante seu "reinado", potencializou o crescimento da comunidade e se fortaleceu, conquistando diversas vitórias contra os soldados portugueses. Dotado de grandes habilidades, o representante da resistência negra era o rosto da coragem, da determinação e do domínio de estratégias, além de reunir conhecimentos militares.
Derrotado e morto pelas tropas comandadas por Domingos Jorge Velho, bandeirante paulista, em 20 de novembro de 1695, só entrou para a galeria dos heróis 300 anos depois, quando, em 1995, a data de sua morte foi adotada como o Dia da Consciência Negra, data que reverencia e mantém viva a memória de Zumbi, que é o maior símbolo de resistência contra a escravidão no Brasil.
Dandara .. Esposa e líder negra que lutou ao lado de Zumbi
A história dá conta de que o líder palmarino teria se casado com uma heroína. Dandara, a representante feminina do movimento negro que guerreou ao lado de Zumbi, tem poucos documentos historiográficos e uma memória ainda repleta de improbabilidades. No entanto, a mulher do ícone da luta negra teria contribuído significativamente nas batalhas pela segurança do quilombo.
Registros antropológicos afirmam que Dandara vinha de ascendência africana e se mostrava uma forte líder na resistência à escravidão. Persuasiva e obstinada pela liberdade do grupo, sua existência foi tratada como lenda, sendo Zumbi, o único a ganhar posição de destaque na causa negra. Com técnicas de capoeira, participou de todas as batalhas ao lado do marido. Teve três filhos com ele e colaborava com todas as atividades cotidianas do bando, entre elas o cultivo da cana-de-açúcar, banana, mandioca, batata-doce, do feijão, bem como na fabricação de materiais para guerra e agricultura.
Junto de homens e mulheres, Dandara auxiliou Zumbi no planejamento da organização de Palmares e montou uma estrutura socioeconômica, política e familiar forte. A história da negra guerreira é descrita em fatos documentados, porém, é recheada de muitas "invenções". Para alguns historiadores, sua presença como líder feminina foi suprimida dos registros oficiais por uma questão sexista e racista.
Dandara suicidou-se em 6 de fevereiro de 1694, na destruição de Macaco (nome dado ao principal quilombo de Palmares), para não ter que viver novamente na condição de escrava.
Por que foi criado o Dia da Consciência Negra?
Em 1988, quando se comemoraram os 100 anos da assinatura da Lei Áurea, os espaços e fóruns de debate sobre a história da escravidão no Brasil ganharam força. Organizado desde a década de 70 e formado por diversas entidades (ONGs, associações e pastorais, entre outros), o movimento negro brasileiro contou com representantes políticos de peso, como a ex-senadora Benedita da Silva. Ele levantou muitas questões: Quais as reais mudanças ocorridas na situação do povo negro e seus descendentes no Brasil? A cidadania e as conquistas sociais também foram ampliadas à população negra?
O dia 20 de novembro de 1995 foi escolhido pelo movimento negro organizado do Brasil como o Dia Nacional da Consciência Negra, em homenagem ao aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, ocorrida em 1695. Esse fato é importante porque representa uma forma de resistência à comemoração oficial da abolição da escravatura, que aconteceu no dia 13 de maio.
Segundo o professor Jairo de Carvalho, o dia da abolição dos escravos vem deixando de ser comemorado e tem se tornado referência para a reflexão e a denúncia, por exemplo, da falsa democracia racial brasileira. O dia 20 de novembro também vem ganhando destaque no calendário comemorativo nacional, espelhando a importância da reflexão crítica diante da nossa história.
Um pouco da História do Quilombo dos Palmares
Aquilombar-se, aquilombados, quilombolas... Todos resistindo à escravidão... A fuga para os quilombos
era a saída.
Os quilombos representaram a principal forma de resistência negra durante a escravidão. Eram comunidades, espécie de aldeamentos, de negros que fugiam dos latifúndios. O maior e mais duradouro foi o Quilombo dos Palmares, que subsistiu graças ao trabalho comunitário: o artesanato, o cultivo do milho, do feijão, da mandioca, da banana e da cana-de-açúcar, além do comércio com aldeias vizinhas. Devido à produção de excedentes agrícolas, mercadores, mascates e comerciantes das capitanias vizinhas e até estrangeiros se interessavam por negociar e trocar utensílios e armas com os palmarinos.
Um pouco da História do Quilombo dos Palmares
O Quilombo dos Palmares durou cerca de um século, de 1590 até 1694, quando foi destruído.
Na segunda metade do século XVII, as autoridades locais e os governos Geral e da capitania de Pernambuco aumentaram o número de expedições militares contra Palmares. Como não conseguiam pôr fim ao quilombo, foram obrigados a negociar com os rebeldes.
Em 1678, o rei Ganga Zumba foi ao Recife e assinou acordo com o governador Aires de Sousa e Castro. Em troca da liberdade, de terras e da autorização para comerciar com os moradores da região, os quilombolas deviam depor as armas e desistir das fugas. Parte dos palmarinos, liderados por Zumbi, foram contrários ao acordo de paz e se recusaram a deixar Palmares. Em Cucaú, vivendo sob forte vigilância das autoridades portuguesas e hostilizado pelos moradores das vilas próximas, Ganga Zumba viu frustrada sua iniciativa. Morreu envenenado por um partidário de Zumbi.
Um pouco da História do Quilombo dos Palmares
Como Palmares representava a liberdade, tornando-se um símbolo de luta e esperança, as fugas de escravos passaram a ser mais frequentes em diversas regiões, já que todos queriam chegar a Palmares.
Em 1687, o sertanista paulista Domingos Jorge Velho foi contratado pelas autoridades coloniais para destruir os quilombos. Juntamente com as forças de Pernambuco e Bahia, que já lutavam na região, o sertanista cercou os principais redutos, que resistiram ainda por vários anos, mas foram derrotados em fevereiro de 1694. Apesar de ferido, Zumbi escapou e continuou a luta. Traído por Antônio Soares, seu homem de confiança, foi encurralado em seu esconderijo e morto em 1695.
A cabeça de Zumbi foi espetada em um pau e exposta ''no lugar mais público'' do Recife. O governador de Pernambuco na época, Caetano de Melo e Castro, desejava mostrar que o herói negro Zumbi não era imortal como pensavam os aquilombados.