História >> Conflitos entre árabes e israelenses
Introdução
O território onde hoje se desenrola um conflito cheio de implicações geopolíticas, sociais e religiosas já foi ocupado por povos de diferentes civilizações. Por ali, passaram assírios, persas, babilônios, gregos e romanos. Todos esses povos conviveram, de alguma forma, com povos locais, realizando trocas culturais e configurando aspectos de uma cultura própria da região.
Aproximadamente entre 1800 e 1500 aC, hebreus de origem semita, e de religião judaica, chegaram à região. No século XI, nessa mesma região, surge o Estado Hebreu na região. Ainda no mesmo século, Israel se torna um poderoso centro administrativo e militar.
Dando um grande salto no tempo, chegamos ao ano de 1517, quando tem início a ocupação otomana na região. Essa ocupação viria a durar até 1917, quando a primeira guerra mundial muda drasticamente os destinos da região. Antes disso, chegou a existir, inclusive, um Estado cristão em Jerusalém, por ação dos cruzados; mas foi a ocupação do Império Turco Otomano a que mais fez consolidar padrões culturais na região, orientando a consolidação da religião islâmica entre os habitantes.
Os conflitos entre árabes e israelenses repetem-se de tempos em tempos, fazendo-nos lembrar de uma das mais antigas disputas territoriais do mundo contemporâneo. Há muito tempo que o conflito deixou de envolver israelenses e árabes. Ele abarca e divide diversos grupos em todo o planeta. Muito mais que um problema localizado, ele envolve judeus, muçulmanos, Estados Unidos (favorável a Israel) e os países árabes, além de provocar debates intensos no mundo todo.
O Estado de Israel
O século XX começou com a tentativa de fazer com que um grande número de judeus migrasse para a região, sobretudo, motivados pelas perseguições sofridas em seus países de origem, mas esse processo de migração ganhou força efetiva, em circunstância do massacre de judeus promovido pela Alemanha Nazista. Não se pode dizer que essa migração tenha sido pacífica, pois os habitantes da região ofereceram forte resistência à chegada dos colonos.
O atual conflito entre árabes e israelenses nos leva à década de 40, quando foi criado o Estado de Israel. Entretanto, este não era um projeto novo, nem a migração de judeus para a região é algo que teve início com a oficialização do Estado de Israel. Até o final da Primeira Guerra Mundial, em 1917, a Palestina possuía uma população muçulmana e uma minoria judaica e estava sob o domínio do Império Turco. Com a derrota turca no conflito, o domínio territorial coube à Inglaterra, que desde então havia se comprometido com a divisão territorial a fim de criar um estado judeu. O que pouca gente sabe é que a Assembleia que criou Israel foi presidida por um brasileiro, o diplomata Oswaldo Aranha.
Com a aprovação internacional, começou o chamado movimento sionista e em 1948 nascia o estado judeu, Israel.
O Estado de Israel
O sionismo
O sionismo pode ser definido como um movimento que prega a volta dos judeus à terra prometida, segundo as origens bíblicas deste povo. As perseguições aos judeus remontam à Idade Antiga e a Primeira Diáspora judaica aconteceu ainda no século V, a C. Na antiguidade, a perseguição era, sobretudo, religiosa, já que a maior parte dos povos era politeísta e os judeus, monoteístas. Durante séculos, o povo judeu espalhou-se por diversos países do mundo, pois havia sido privado de uma pátria. Europa e América foram os continentes que receberam o maior número de judeus.
O preconceito contra o povo judaico acompanhou toda sua história desde a diáspora.
Foto do Segundo Congresso Sionista, em 1898.
O Estado de Israel
O sionismo
Na Rússia, que recebeu um grande número de imigrantes judeus, eram comuns os Pogrons, manifestações coletivas e violentas nas quais os judeus, eram agredidos e tinham suas casas e bens destruídos, e que sempre foram ignorados pela opinião internacional.
O quadro Depois do Pogron, do pintor judeu lituano Lasar Segall, foi pintado no início do século e representa a perseguição dos judeus russos.
Cartão celebrando o Ano Novo Judaico de 1900. Nele podemos observar uma família de judeus russos sendo recebidos pela comunidade judaica norte-americana. A fuga de judeus na Europa era constante devido aos pogrons, que ocorriam, especialmente, na Russia.
O Estado de Israel
O sionismo
No século XIX, Theodor Herzl propôs a criação de um estado judaico. Suas propostas reuniram diversos lideres de comunidades ao redor do mundo que tinham interesse na criação de Israel. O nome sionismo é originário de Monte Sião, nos arredores de Israel. Por suas propostas de retorno, o sionismo também ficou conhecido como nacionalismo judaico. Em 1948 Israel é definitivamente ocupado e começam as hostilidades entre o estado judeu e os países muçulmanos.
Theodor Herzl, o idealizador do sionismo contemporâneo.
O primeiro ministro judeu Ben Gurion pronunciando a Declaração do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948, em Tel Aviv.
A Questão Palestina
Em 14 de maio de 1948, David Ben Gurion, um dos líderes do movimento sionista, leu a proclamação oficial de criação do Estado de Israel e tornou-se seu primeiro ministro. Essa declaração era simbólica, já que o estado havia sido aprovado no ano anterior. Entretanto, apenas oito horas após esta comunicação, Israel foi invadido por tropas muçulmanas do Egito, Síria, Iraque e Jordânia, que formavam a Liga Árabe e não reconheciam o novo estado.
Bandeira sendo hasteada marcando o fim da 1ª guerra árabe israelense em 1948.
A Questão Palestina
A expansão israelense e a expulsão de 900 mil palestinos aproximadamente foram o combustível para reacender ainda mais os conflitos.
A Questão Palestina
A Guerra de Suez
Em 1956, aconteceu a segunda guerra árabe–israelense, tendo como foco o canal de Suez, no Egito. Na década de 50, o Egito era governado por Nasser, cuja política nacionalista incluía, entre outros pontos, a nacionalização do canal de Suez, pela qual o Egito teria direito a cobrar as taxas que desejasse, além de ter o poder de permitir ou proibir o comércio em seus domínios. Suez era um ponto estratégico de comércio e, com o apoio da França e Inglaterra - que eram contra a nacionalização do canal, pois tinham intensos negócios com o Oriente - estourou a guerra contra o Egito. Vitorioso, Israel ocupa a região do Sinai, mas sob pressão norte-americana e russa, é obrigado a abrir mão da possessão conquistada que é ocupada por um exército da ONU.
A nacionalização do canal de Suez foi o estopim do conflito entre Egito e Israel.
A Questão Palestina
A OLP
A Terceira Guerra Árabe Israelense ou Guerra dos Seis Dias ocorreu em 1967. Mas seus antecedentes remontam a 1964, com a criação da OLP (Organização pela Libertação da Palestina), por Yasser Arafat, com o objetivo de retomar os territórios ocupados por Israel e reconstruir o estado Palestino. Os métodos da OLP incluem, além das negociações diplomáticas, práticas terroristas e as temidas intifadas. As intifadas, que querem dizer revoltas, são apedrejamentos coletivos, feitos pela população civil. São ainda mais espantosos por não serem planejados, mas espontâneos. São manifestações da população árabe, inclusive mulheres e crianças.
Vitorioso Israel ocupou territórios sírios, egípcios e jordanianos como a faixa de Gaza, Cisjordânia, o Sinai e Golan. Seis dias provocaram uma massa de refugiados de mais de um milhão e seis mil palestinos que fugiram da guerra que era interminável e imprevisível.
Yasser Arafat.
Tropas israelenses se preparando para o combate na península do Sinai.
A Questão Palestina
Yom Kippur
Camp David abriu espaço para as negociações de paz. Em 1993, pela primeira vez, yasser Arafat, líder da OLP e o então primeiro ministro de Israel, Itzhak Rabin, buscaram uma solução conjunta para a questão palestina. A paz durou pouco. Em 1995, apenas dois anos depois, Rabin foi assassinado por um extremista judeu, mostrando que o radicalismo na região não é uma exclusividade árabe.
Guerra do Yom Kippur.
A Questão Palestina
Yom Kippur
Em 1996, Benjamin Netanyahu assumiu o cargo de primeiro ministro. Sua eleição não foi a toa. Netanyahu havia sido embaixador de Israel nos Estados Unidos, tinha fortes ligações políticas com o Ocidente e condenava abertamente os acordos de Rabin e Arafat. Sob seu governo, as tentativas de paz foram esquecidas e houve uma nova retomada da violência de ambos os lados. Após sua saída e sob a liderança de Ehud Barak, novas tentativas de conciliação foram feitas com a Síria, mas poucas mudanças foram implementadas.
Tanques nas Colinas de Gola na Guerra do Yom Kippur.
Em 1993, Itzhak Rabin e Yasser Arafat selam o acordo de Oslo, durante a gestão do presidente norte-americano Bill Clinton.
A Questão Palestina
E em 2008, Gaza
Em 2006, o território de Gaza estava sob o controle da OLP, que foi substituída pelo Hamas, cuja política é ainda mais agressiva que a assumida por Arafat. Após assumir Gaza, os líderes do Hamas enviaram ataques com foguetes ao território israelense. A justificativa do Hamas e que Israel havia iniciado um bloqueio que prejudicava a população de Gaza. Por sua vez, o governo de Israel afirma que os ataques continuam, apesar de terem sido firmados acordos de cessar fogo.
Membros do Hamas em Gaza.
A Questão Palestina
Novamente Gaza, 2014
O assassinato de três adolescentes israelenses, na Cijordânia, em 12 de junho de 2014 foi o estopim para um brutal recrudescimento dos conflitos. Israel acusou o Hamas de haver sequestrado e morto os jovens, mas o grupo negou as acusações.
Na sequência, hostilidades de ambos os lados levaram a uma situação de confronto. O primeiro-ministro israelense, Netanyahu, justificou a ação de Israel afirmando que o Oriente Médio estava cercado pelo extremismo islâmico, referindo-se à ofensiva dos radicais islâmicos no Iraque.
Em julho de 2014 Israel iniciou ataques aéreos a Gaza que se intensificaram causando muitas mortes entre a população civil e destruição. Posteriormente invadiu Gaza por terra, argumentando que precisava destruir os túneis construídos pelo Hamas para passagem de seus combatentes.
Em 2020, os Emirados Árabes Unidos e Bahrein estabeleceram relações diplomáticas com Israel, seguindo um acordo mediado pelos Estados Unidos, conhecido como Acordos de Abraham.
Em 7 de outubro de 2023, combatentes do Hamas invadiram o sul de Israel, atacando postos militares, kibutz (colônias agrícolas) e um festival de música, fizeram mais de 240 reféns e deixaram um rastro de cerca de 1300 mortos, entre civis e militares.
A comunidade internacional reagiu condenando a invasão como ato terrorista. A reação de Israel foi imediata e violenta, com sucessivos bombardeios à Faixa de Gaza, que atingiram não apenas membros do Hamas mas principalmente a população civil, que foi obrigada a se deslocar e enfrenta grave crise humanitária, sem acesso a comida, água e remédios e sem a mínima infraestrutura de transportes ou de equipamentos de saúde. (2024)
A Questão Palestina
Paz possível
Os diálogos do presente com a história aparecem em cada canto da atual situação política, mas a situação do oriente médio acaba sendo mais exemplar para percebermos que o olhar histórico é fundamental para a compreensão dos atuais conflitos.
Conflitos dessa natureza sempre trazem novos acontecimentos que necessitam ser pensados a partir de seu desenvolvimento histórico e nos novos contextos que aparecem.
Desde o fim da gestão de Rabin as negociações de paz esfriaram. Ao mesmo tempo, os países árabes vivem a proliferação de grupos terroristas e homens e mulheres-bomba cujos alvos são aleatórios. Não seria possível mais estimar o número de mortos e refugiados que décadas de guerras, acordos de paz quebrados e intolerância geraram. Tampouco é possível apontar culpados e inocentes ou avaliar quem tem razão. Os judeus têm direito a um território próprio depois de séculos em diáspora. Ocuparam a terra santa, cujo enclave é Jerusalém, uma cidade sagrada para três das maiores religiões do mundo, muçulmanos, judeus e cristãos. Jerusalém é território neutro em meio ao conflito, mas sua neutralidade também é desrespeitada e a cidade já sofreu ataques terroristas. Do lado árabe, os muçulmanos alegam que os palestinos foram expulsos de seu território, tornando-se um povo sem pátria, pobre e nômade.
A Questão Palestina
Paz possível
Assim, a situação do conflito não pode ser pensada sem a devida atenção à situação interna dos dois lados. Israelenses contam com grupos atuantes para a paz, que condenam as ações de seu governo, enquanto contam com grupos radicais que entendem, por motivos religiosos, que palestinos devam ser expulsos da região. Assim, esse assunto é pauta para seu processo eleitoral. Do outro lado, o Hamas não representa a vontade de todo povo palestino, mesmo controlando a Faixa de Gaza.
O Hamas não abre mão de sua tática agressiva e a resposta de Israel é mais do que autodefesa. A comunidade internacional critica Israel pelo número de civis mortos, enquanto a guerra parece ser o único caminho para várias correntes políticas na região (mesmo com grupos pacifistas nos dois territórios).
O conflito se estende, desafiando as novas gerações a buscar saídas humanitárias que neutralizem tantos interesses nocivos ao desenvolvimento de qualquer conversa de paz.
Certamente que a paz é possível, mas para que seja real é preciso que ambos os lados esqueçam suas diferenças e, mais que isso, apaguem um passado recente de tantas perdas, árabes e judaicas, e consigam um novo recomeço, dessa vez, sem promessas quebradas.