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O Fundamentalismo
A palavra fundamentalismo aparece ligada a diversos contextos, podendo ser usada em uma reportagem sobre o islamismo, mas também em um artigo sobre sistemas econômicos. De fato, o fundamentalismo, embora esteja originalmente vinculado à religião, não diz respeito somente a ela.
Podemos localizar a origem do fundamentalismo no século XIX, entre os protestantes, quando o termo era utilizado para designar a crença nos princípios bíblicos fundamentais como o
criacionismo e a ressurreição de Cristo.
Por estar baseado, inicialmente, nas questões da fé, o fundamentalismo acabou por se tornar vinculado ao aspecto religioso.
Entretanto, podemos considerar como fundamentalista não apenas a crença, mas também toda prática radical e intolerante baseada na interpretação única e literal de um documento ou de uma tradição.
O Fundamentalismo
INTOLERÂNCIA.
Essa é a palavra-chave para entendermos porque normalmente o fundamentalismo aparece nas manchetes junto a atos terroristas e extremistas.
Quando um grupo interpreta um documento religioso de forma literal e não permite outras interpretações ou novas visões sobre este aspecto, ele dissemina a intolerância. As ações radicais são a tradução desta atitude autoritária. No século XX, o fundamentalismo esteve constantemente associado ao islamismo. Apesar dessa associação, não apenas a religião islâmica que possui grupos fundamentalistas. Judeus, cristãos, dentre outras vertentes religiosas, também possuem grupos fundamentalistas.
Na religião
A religião muçulmana divide-se em dois grupos principais: xiitas e sunitas. Essa divisão baseia-se numa interpretação diferenciada do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos. Para os sunitas, o líder político e religioso deveria ser escolhido pela maioria da população muçulmana. Essa interpretação é baseada na Suna, que significa caminho trilhado e que consiste na descrição das realizações de Maomé, o principal profeta islâmico. Portanto, a Suna é também considerada, para este grupo, como um livro sagrado.
Os xiitas, por sua vez, não aceitam nenhum outro livro que não o Corão. A interpretação do Corão, pelos suras, nome dado a cada um dos capítulos do Corão, é feita de forma literal, desconsiderando as especificidades locais e temporais. Embora correspondam a menos de 30% do total de muçulmanos por todo o mundo, são para os xiitas que os olhares se voltam quando o assunto é fundamentalismo. No caso islâmico, isso atinge grandes proporções, pois para os xiitas os líderes religiosos são também a principal autoridade política.
Duas visões diferentes dentro da mesma religião: xiitas e sunitas.
Na religião
O Fundamentalismo cristão
Existem diversas religiões cristãs ao redor do mundo, como o catolicismo e o luteranismo. Podemos identificar grupos no interior dessas religiões cristãs que também podem ser caracterizados como fundamentalistas. Entretanto, diferente dos muçulmanos, o líder religioso não detém, necessariamente, poder político. Dessa forma, sua influência, ainda que seja grande, é limitada. Os grupos fundamentalistas cristãos baseiam-se no princípio da infalibilidade das escrituras. Logo, a mudança no comportamento das sociedades não justifica uma mudança nos ritos e crenças cristãos. Há uma busca constante pela manutenção dos valores primitivos do cristianismo e questões polêmicas como aborto e uso de anticoncepcionais são condenadas veementemente. O fundamentalismo cristão está associado, sobretudo, aos grupos neopentecostais norte-americanos.
Voz cristã
O Fundamentalismo cristão tem alcançado, atualmente, grande projeção, mesmo não realizando ataques terroristas. De fato, a atuação desses grupos se restringe a manifestações, eventos, publicações de livros entre outros, para divulgar suas ideias. Entretanto, tais grupos consideram toda a prática que não está de acordo com suas crenças como blasfêmia e heresia. Dessa forma, condenam também a liberdade de escolha, de expressão e o livre arbítrio. O grupo Voz Cristã, formado por fundamentalistas ingleses, faz constantes boicotes a peças e musicais que considerem inadequados, sendo ferrenhos defensores da censura. Além disso, colocam-se contra o divórcio, o uso de contraceptivos e pregam o retorno aos verdadeiros valores cristãos.
Fundamentalismo pelo mundo
O partido israelense Kach foi fundado em 1971, por um rabino, Meir Kahane. Nascido nos Estados Unidos, Kahane imigrou para Israel, no mesmo ano em que fundou o Kach, que em hebraico quer dizer dessa maneira. O Kach defende o restabelecimento do território israelense seguindo as indicações encontradas na Torá.
Em 1984, Kahane foi eleito deputado e elaborou vários projetos de lei ortodoxos, como a proibição de qualquer tipo de contato íntimo entre judeus e não-judeus. Por sua postura extremista, o partido foi declarado racista, em 1986, pelo governo de Israel e expulso do parlamento. Em 1980, Meir Kahane foi assassinado por um egípcio, enquanto proferia um discurso em Manhattan. Após sua morte, as ações do Kach se tornaram mais violentas e deram origem ao grupo Kahane Chai, que quer dizer Kahane vive. Em 1994, um militante deste grupo, Baruch Goldstein, assassinou dezenas de palestinos, inclusive crianças, no episódio que ficou conhecido como Massacre da Caverna dos Patriarcas.
Bandeira do partido Kach.
Fonte: Wikipédia
Fundamentalismo pelo mundo
O grupo Neturei Karta, que significa Guardiões da Cidade, em hebraico, é formado por judeus ortodoxos, opositores do sionismo. Os Naturei Karta foram contra o estabelecimento do Estado de Israel e em 1948, ano da criação de Israel, iniciaram um boicote entre seus membros. Estima-se que cinco mil judeus façam parte desse grupo. Seus líderes os proíbem de participar das eleições israelenses, não reconhecem nenhuma autoridade política e não participam de nenhuma instituição do estado.
Rabino Amran Blau, principal líder dos Neturei Karta
Fonte: Wikipédia
Fundamentalismo pelo mundo
A Frente Islâmica de Salvação é um partido argelino, que defende a adoção do Corão como único código de leis válido para administrar o país. No início dos anos 90, a frente islâmica conseguiu enorme apoio da população muçulmana argelina. Temendo a vitória desse partido, as eleições foram interrompidas o que deu início a uma crise que durou mais de dez anos. Desse partido surgiram outros grupos fundamentalistas como o Grupo Armado Islâmico e o Exército Islâmico de Salvação.
Fundamentalismo pelo mundo
O mundo inteiro passou a conhecer o grupo fundamentalista Al Qaeda, que quer dizer a fundação em árabe, após o atentado de 11 de setembro. O líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden, defende a ideia de que todas as nações não islâmicas deveriam ser eliminadas ou convertidas a verdadeira religião.
As ações da Al Qaeda tem como alvo não só os judeus, mas também os países da Europa e os Estados Unidos que, segundo Osama, são responsáveis por várias ações prejudiciais aos muçulmanos.
Além do ataque nos Estados Unidos, a Al Qaeda já promoveu diversos atentados em países como Quênia e Egito. Não há como determinar o tamanho desta organização, nem seu número de membros, pois ela está dividida em diversos grupos e facções, como a Abu Sayyaf, que atua nas Filipinas.
Fundamentalismo pelo mundo
Jihad Islâmica
A Jihad, traduzida comumente como guerra santa, é, na verdade um conceito do islamismo. O Profeta Maomé havia denominado como Jihad a luta dos muçulmanos pela conversão dos outros povos a esta religião. A Jihad foi estabelecida por Maomé após a sua saída de Meca, devido às perseguições que ele e seus seguidores sofreriam. Este episódio é chamado de Hégira.
Alguns grupos fundamentalistas consideram a Jihad um sexto pilar do Islã. Logo, a conversão deveria ser realizada a qualquer custo, o que justificaria a prática terrorista. A Jihad islâmica está presente em vários países como Egito e Afeganistão e é responsável por um enorme número de atentados por todo o planeta.
Fundamentalismo pelo mundo
A Universidade Bob Jones, na Carolina do Sul, Estados Unidos, é uma instituição de ensino baseada nos princípios bíblicos. Todos os cursos de graduação possuem disciplinas de cunho religioso e seu objetivo é, segundo eles próprios, formar profissionais para seguir a Jesus Cristo. Todos os estudantes frequentam cursos bíblicos. Até aí, nada demais, correto? Entretanto, esta universidade proíbe namoros inter-raciais e não aceita estudantes homossexuais. Caso um estudante seja denunciado como homossexual, ele é expulso da instituição. As práticas claramente racistas desta universidade não impediram o ex-presidente norte americano George W. Bush de visitá-la, apesar das críticas que recebeu. Boa parte dos eleitores cristãos dos Estados Unidos apoiam a Universidade Bob Jones e seus métodos.
Sede da Universidade Bob Jones, fundada em 1927, na Carolina do Sul.
Fonte: Wikipédia
Na economia
Chamamos de fundamentalismo econômico a adoção de práticas baseadas em uma doutrina especifica e que não correspondem à conjuntura do período.
Por exemplo: a União Soviética manteve a política econômica planificada do socialismo, que não era baseada no mercado, mesmo quando a economia de mercado já havia sido adotada por quase todos os países do mundo, inclusive os não-capitalistas, como a China.
Recentemente, vivemos uma enorme crise econômica provocada, sobretudo, pela manutenção dos princípios neoliberais, mesmo quando era necessária a intervenção do Estado.
Não reformar a economia quando é necessário por optar em seguir literalmente os princípios de um sistema econômico pode ser considerado uma forma de fundamentalismo.
Na economia
Perspectivas
Após o atentado de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center, pelo grupo islâmico Al Qaeda, terrorismo e fundamentalismo tornaram-se quase sinônimos. A política do então presidente norte-americano George W. Bush foi implacável na caçada aos possíveis terroristas. Ações políticas que cerceavam as liberdades individuais, como o Ato Patriótico, um pacote de medidas aprovado pelo Congresso quarenta e cinco dias após a tragédia do World Trade Center, foram promulgadas como emergenciais, mas sem prazo para serem canceladas. Não houve nenhuma consulta à população. Segundo o ato patriótico, os suspeitos de terrorismo poderiam ter seu sigilo bancário e telefônico quebrados, qualquer cidadão suspeito pode ser detido para averiguação e há uma lista negra nos aeroportos composta por nomes de pessoas que estão sob investigação. O 11 de setembro também foi a origem da guerra do Iraque, um conflito que se arrastou por vários anos e consumiu muitas vidas.
O ex-presidente Bush justificava que estas medidas, bem como a guerra no Iraque conteriam o terrorismo e o fundamentalismo. Mas, não seria uma nova espécie de fundamentalismo? Nesse caso, o fundamentalismo político no qual, em nome da democracia, todos os princípios democráticos são violados, inclusive os direitos inalienáveis de soberania e autorregulação dos povos.
O fundamentalismo no século XXI é, sobretudo, uma contradição. Quanto mais globalizados, mais separados. Em um momento que a tônica mundial é integrar-se, buscando a dissolução das fronteiras econômicas, fenômenos como os radicalismos religiosos mostram que ainda há muito a percorrer para chegarmos ao ideal de integração que tem sido pregado desde o fim da União Soviética, em 1991.
Na economia
É certo que as políticas de integração só serão possíveis com um esforço coletivo. Apesar das inúmeras disputas continuarem pelo mundo, algumas iniciativas importantes tem sido tomadas. A eleição do atual presidente norte-americano Barack Obama foi considerada um passo significativo para a abertura de um diálogo. Primeiro presidente negro, de família imigrante, Obama tem personificado a esperança de abrir caminho na selva de radicalismo.