História >> Invasões Estrangeiras no Brasil
Introdução
O ano de 1500 marca a chegada dos portugueses ao Brasil, iniciando assim, a colonização da América Portuguesa. Entretanto, os portugueses não foram os únicos europeus a estabelecer uma colônia nas terras brasileiras.
Franceses e holandeses também estabeleceram suas colônias por aqui. E mesmo tendo fracassado, essas iniciativas deixaram profundas marcas na história colonial, seja pela herança cultural, seja pela estrutura econômica que aqui montaram.
A cidade Maurícia, construída pelo holandês Maurício de Nassau no período da invasão holandesa do Nordeste Brasileiro, atualmente é parte da cidade de Recife, Pernambuco.
A França no Brasil
O pioneirismo ibérico na expansão marítima permitiu a Portugal e Espanha garantirem, com o apoio da Igreja católica, a posse das terras americanas. O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 teve como intermediário ninguém menos que o papa Alexandre VI. Segundo este tratado, ficava estabelecido que as terras situadas até 370 léguas a Oeste de Cabo Verde seriam portuguesas e as terras a oeste, espanholas.
Há muitas razões para entendermos o pioneirismo ibérico. Uma delas é o fato de tanto Portugal quanto Espanha terem promovido sua unificação, e, portanto, terem formado seus estados nacionais antes dos demais reinos da Europa. A centralização de poder foi fundamental para que o processo de expansão marítima acontecesse.
Entretanto, à medida que os demais reinos europeus também se unificaram, começou a disputa pelas terras americanas. O interesse no novo continente era tão grande que a pirataria era comum no Atlântico. Corsários ingleses frequentemente atacavam navios espanhóis e roubavam suas cargas, afundando-os em seguida.
A França no Brasil
O rei francês, Francisco I, discordou abertamente do Tratado de Tordesilhas. Segundo ele: "Gostaria de ver o testamento de Adão que divide as terras entre Portugal e Espanha e afastou a França da partilha do mundo".
Dessa forma, o rei aprovava claramente as iniciativas que contestassem o domínio territorial português. Como o estado francês não reconhecia a validade do Tratado de Tordesilhas, as terras que não estavam ocupadas poderiam ser colonizadas.
Assim, em 1555, o francês Nicolas Durant de Villegaignon funda, no Rio de Janeiro, uma colônia francesa, denominada França Antártica.
Nicolas Durant de Villegaignon
A França no Brasil
Os franceses tinham o apoio dos índios tupinambás, que lutaram contra os portugueses desde o início da colonização. Segundo os relatos da época, os tupinambás eram poderosos guerreiros, que, dentre seus rituais, praticavam o canibalismo. Os tupinambás, junto com outras tribos indígenas, constituíram a Confederação dos Tamoios, que lutava contra a escravidão dos índios e pela posse de suas terras.
O francês André Thevet esteve no Brasil entre os anos de 1555 e 1556. Thevet era um religioso, e durante sua estada na colônia francesa no Rio de Janeiro escreveu a obra Singularidades da França Antártica. Nela há desenhos e impressões do viajante do Brasil dessa época. Neste desenho de Thevet vemos um ritual de canibalismo tupinambá. Os costumes indígenas fascinavam os franceses que, por não serem católicos, não iniciaram nenhum processo de conversação. A maioria dos franceses que aportou no Rio de Janeiro era protestante, da denominação huguenote.
A França no Brasil
A aliança com os indígenas tornou a expulsão dos franceses ainda mais difícil. Em 1558 chega ao Brasil Mem de Sá, nomeado governador geral. Uma de suas mais importantes missões era expulsar os franceses da Baía de Guanabara.
Mem de Sá buscou cumprir suas ordens, iniciando uma campanha militar contra os franceses. Mesmo após algumas vitórias dos portugueses, em 1563, os franceses ainda resistiam. Em 1565, o sobrinho de Mem de Sá, Estácio de Sá, funda a cidade do Rio de Janeiro. O objetivo de Estácio de Sá era criar uma base de onde pudesse atacar e expulsar definitivamente os invasores.
Somente no ano de 1567, e com a ajuda de tribos inimigas da Confederação dos Tamoios, os portugueses obtém sucesso. Entretanto, Estácio de Sá, não pode aproveitar o sucesso de sua tarefa. Durante uma das últimas batalhas, o português é atingido por uma flecha envenenada e morre pouco tempo depois.
Mapa francês de 1555, vemos a Baía de Guanabara, com a invasão francesa ao centro, nas ilhas da Baía.
A França no Brasil
A França Antártica
A expulsão dos franceses não significou o final de suas investidas ao território brasileiro. Nos séculos XVI e XVII, a França vivia diversos conflitos religiosos, entre católicos e protestantes. As perseguições religiosas eram frequentes, o que prejudicava sobremaneira o Estado Francês.
Em 1612, a exemplo do que antes ocorrera com a França Antártica, o francês Daniel de la Touche, senhor de La Ravardiere, funda, no Maranhão, uma nova colônia, a França Equinocial. Ao chegar ao Maranhão, la Touche une-se às tribos tupinambás, que já haviam enfrentado os portugueses na Confederação dos Tamoios. Com o objetivo de dar início à colonização, é fundado o forte de São Luis, nome escolhido em homenagem ao então rei da França, Luís XIII. O estabelecimento do forte deu origem a uma cidade, São Luís, capital do Estado do Maranhão.
A colônia francesa no Maranhão durou pouco. Liderados por Jerônimo de Albuquerque, os portugueses lutaram para impedir a permanência dos "invasores" em seus domínios. Ainda assim, os franceses negociaram uma indenização pelas perdas e investimentos que haviam realizado na região, o que acabou compensando o fracasso da empreitada, que terminou em 1615.
O Brasil holandês
Entre 1580 e 1640 ocorre na Europa o período que chamamos de União Ibérica, ou seja, o reino de Portugal e suas colônias estavam submetidos ao poder espanhol. Esse império luso-espanhol, comandado pelo rei Felipe II, da dinastia Habsburgo, era um dos mais poderosos impérios da Europa no século XVI. Neste mesmo século, com a morte do rei Carlos V, seu filho, Felipe II, herdou diversos territórios, dentre eles, a Holanda.
Entretanto, o governo do rei Felipe II sobre esta região foi extremamente autoritário e violento, o que provocou diversas revoltas na Holanda, até que esta conseguisse sua independência da Espanha, em 1581.
Irritado por ter perdido parte de seu território, Felipe II ordena que todos os portos de seu império sejam fechados à Holanda. Nesta época, a economia holandesa baseava-se, sobretudo, no comércio ultramarino, com as colônias de império luso-espanhol. Com o fechamento dos portos, esta economia entrou numa crise intensa.
Retrato de Felipe II
O Brasil holandês
Durante o século XVII, a Holanda, independente, se lança à expansão marítima, fundando a Companhia de Comércio das Índias Ocidentais. Entretanto, essa entrada acontece muito tarde e grande parte da América já havia sido ocupada por Portugal e Espanha. Assim, coube aos holandeses invadir as regiões mais afastadas destas colônias, onde os europeus não haviam, ainda, estabelecido núcleos fortes de povoamento.
A Companhia das Índias dedicava-se a atividades muito lucrativas, como o comércio de escravos. Através do tráfico de escravos, a Companhia passa a ter livre acesso ao nordeste brasileiro, uma região que pertencia ao Império Luso Espanhol, mas que ainda não tinha sido ocupada definitivamente pelos europeus.
Logo, a Companhia tenta se estabelecer na Bahia, invadindo a cidade de Salvador, mas a Espanha envia exércitos e reprime a invasão holandesa.
Mapa de 1631 ilustrando a restituição da Bahia. Nele vemos a esquadra espanhola expulsando os holandeses do território.
O Brasil holandês
Mesmo após o fracasso da ocupação de Salvador, os holandeses não desistiram das terras brasileiras e buscaram, então, uma região mais afastada do litoral, vindo a se estabelecer de maneira mais definitiva em Pernambuco, na cidade de Olinda.
Ao ocupar Olinda, a Companhia das Índias inicia um enorme empreendimento açucareiro, implantando engenhos e trazendo escravos para compor a mão de obra. O lucro que a indústria açucareira gerava para a Holanda era tão grande que em poucos anos o número de refinarias holandesas passou de três para vinte e nove.
Se, inicialmente, a invasão holandesa restringiu-se a Olinda, logo ela se expandiu para o Recife e daí para as demais regiões do Nordeste, até chegar ao Maranhão.
Gravura holandesa mostrando o cerco a Olinda em 1630.
O Brasil holandês
Os holandeses no Nordeste
Apesar de enfrentar uma certa resistência local na ocupação do Nordeste, a invasão holandesa conseguiu rapidamente aliar-se a uma boa parte dos senhores de engenho locais. A prosperidade que a Companhia das Índias prometia atraiu os interesses dessa classe. Ficou marcado o nome de Domingos Fernandes Calabar, considerado um traidor ao apoiar a permanência holandesa contra o domínio português.
Após vencerem a resistência, a Companhia das Índias investiu ainda mais no Nordeste Brasileiro, nomeando um governador de extremo prestígio para administrar a região: Maurício de Nassau.
A administração de Nassau, entre 1637 e 1644, buscou consolidar o domínio holandês no Nordeste, através de medidas favoráveis aos habitantes locais. O governador permitiu a liberdade religiosa, estimulou o comércio e a expansão dos engenhos, e investiu em obras de remodelação do Recife, que ganhou uma nova paisagem, composta por jardins e diversas obras novas de arquitetura.
A expansão holandesa chegou até o Maranhão, onde a atual capital, São Luís, esteve sob o domínio da Holanda, entre os anos de 1641 a 1644.
O fim da União Ibérica e a restauração da monarquia portuguesa reacenderam os movimentos de resistência. A volta de Nassau para a Holanda e a insatisfação dos colonos com a nova administração holandesa acabaram levando à Insurreição Pernambucana, em 1645.
O Brasil holandês
Os holandeses no Nordeste
Desde 1640, consecutivas crises afetaram a produção de açúcar, principal riqueza de Pernambuco. Ignorando as crises, a Holanda continuava a exigir dessa região a manutenção da produção açucareira. A cobrança das dívidas que os colonos tinham com a Companhia das Índias aumentava a insatisfação local.
Pintura de 1667, do artista holandês Frans Post. Post, como vários outros artistas holandeses, veio ao Brasil, sendo recebido por Maurício de Nassau
e retratou diversas paisagens e tipos brasileiros. Nesta pintura, há o registro de um engenho com capela, estrutura típica do Brasil Holandês.
O Brasil holandês
Os holandeses no Nordeste
A aliança entre brancos, negros e índios reforça a ideia do nascimento de um sentimento nacionalista que, nos séculos seguintes, daria origem a outros movimentos de contestação em diversas regiões do território brasileiro.
Embora os holandeses tenham sido expulsos apenas em 1661, a Holanda reconhece a perda das posses no Nordeste, mediante uma generosa indenização de Portugal, que pagou em ouro pela retomada de suas terras, no tratado conhecido como Paz de Haia, que reconhece a volta das terras nordestinas para o domínio português.
O Brasil holandês
Os holandeses no Nordeste
A influência dos holandeses marcou profundamente o panorama da economia nordestina, que consolidou o açúcar e a mão de obra escrava como suas características dominantes. Além disso, a influência dos holandeses na arquitetura e no desenvolvimento de algumas cidades, em especial Recife e Olinda, fizeram dessas cidades patrimônios históricos reconhecidos no mundo inteiro.
Um dos mais importantes artistas holandeses da época, Albert Eckhout, retratou diversos tipos brasileiros, durante sua estada no Nordeste.
A obra de Eckhout é um dos mais importantes registros do período sendo admirada e estudada em todo o mundo.